Uma folha do meu tronco espasmódico espasma espasmodia até aos meus cabelos. São as chamadas convulsões periódicas da minha alma. Acontece. Da minha língua saem arroubos roubos da integridade estável que devemos ser (aos olhos dos outros). Ansiedades malaicas. Totalidade, soma de espasmos em catadupa. Palpitantes histerias até ao céu.
quinta-feira, dezembro 14, 2006
quinta-feira, dezembro 07, 2006
sexta-feira, novembro 17, 2006
terça-feira, novembro 14, 2006
Foto-Objecto. Alice in wonderland IV
quarta-feira, novembro 08, 2006
terça-feira, novembro 07, 2006
Foto-Objecto. Alice in wonderland III
Fotografias: Jeannine Trévidic
Foto-Objecto. Alice in wonderland
segunda-feira, novembro 06, 2006
quinta-feira, novembro 02, 2006
Construção do Abrigo
sexta-feira, setembro 29, 2006
segunda-feira, setembro 18, 2006
quinta-feira, agosto 24, 2006
Demolições
O jogo de braço de ferro com gesso. Campeonato de gesso entre mulheres barbudas.
Concurso miss mamas molhadas. Miss teta de vaca.
Obras. Demolição. Demolição natalícia. Pai Natal velho demolidor traz buracos nas calças e lesmas em vez de prendas.
Sessão de banda desenhada aos triângulos.
Não me lembro. Eu não vi a lolita nua. Nua da Lola.
Bella Cohen e os seus collants de volúpia.
Sete anões debruçados nas cuecas da menina.
Pão no forno feito pela tia peituda.
Plástico queimado e o cheiro a doninhas porcas.
Vat.
Capitães de Outubro Rubro a beber chá de cogumelos.
5 minutos de clacissismo.
Miss nádegas roxas do ciclismo.
Pashe. É assim que se escreve? Pashe!!!! A classical word for pleasure em chinês.
Pausinhos para espetadas de coxas de bailarinos.
Homens. Usamo-los ao pescoço presos pelos dentes.
Palitos em forma de cana de açucar.
E se os dentes tivessem mais espaço entre eles?
quarta-feira, agosto 23, 2006
gargantilha
Usava uma gargantilha de plástico brilhante para disfarçar uma garganta alta áspera uma saliva ácida dos tempos dos chupa chups.
Saía à rua para espreitar pela garganta dos outros na busca de uma história melhor que a sua.
Nos buracos das gargantas dos outros viviam gritos asfixiados e paixões violentas presas num limbo numa morte suspensa em líquido por coagular engrossar vomitar.
O cheiro das gargantas dos outros não era diferente do da rua de baixo.
A correspondência morse entre traqueia e esófago chegava atrasada o coração batia aos solavancos tal como quando os namorados se rebolavam dentro dos carros na rua de baixo.
A sua garaganta afinal era vermelha mas já não tinha qualquer sangue.
A sua gargalhada era morna e o seu hálito quente como o dos cães.
Um dia a sua garganta ficou escancarada entre um contentor do lixo e uma janela. A boca aberta como uma dentadura de leão à venda na loja da rua de baixo.
Vieram amigos e fotógrafos.
Alguns confessaram nunca ter visto uma garganta tão bonita.
quarta-feira, agosto 02, 2006
Projéctil
Ou os bombardeamentos da alma
Ou os atentados internos ao coração do mundo
Não tenho o sangue frio
Das cobras
Dos ensinados a matar
Não fui preparada para chafurdar nas vossas ideologias radicais extremistas
Não sei sequer pegar numa arma
Não sei fazer de enfermeira
Não sei dar gritos de dor
Nunca vi ferimentos de bala
Não sei quanto pesa uma arma
Não sei ficar sem família
Não sei quanto pesa o remorso de um mundo em batalha
Não sei que número seria a minha bota
Não sei
Não sei
Não vi
Não entendi nunca
Não estou preparada para a guerra. Para uma guerra. Para esta guerra.
Não tenho nenhuma recordação disso no ventre da minha mãe.
sexta-feira, julho 28, 2006
As Bonecas da Dona Apolinária Formiga
"Nos meus tempos livres recordo o passado vestindo estas bonecas com as roupas que eu faço de acordo com os trajes usados pelas figuras típicas dos meus tempos de infância" _Apolinária Formiga
Apolinária Formiga recria as "marias da sua terra" de bonecas usadas. Pinta-lhes o cabelo, desenha e faz as roupas conforme se recorda dos trajes do passado.
Há mesmo uma Apolinária Formiga.
Há uma Amália.
De resto figuras pobres que ganhavam a vida com trabalhos que hoje desapareceram: vendedora de passarinhos, porteira do cemitério... De qualquer forma quem não tem memória das melhores figuras da nossa terra, cidade, rua, vizinhança....?
quarta-feira, julho 26, 2006
Lar Doce Lar_ O Nenuco e a Coelha de porcelana
terça-feira, julho 25, 2006
sexta-feira, julho 21, 2006
Lar Doce Lar
Chamava a mãe de patroa mas há também quem cobre por tomar conta do neto.
Sem lar doce.
Esse lar vazio de sons mas cheio de santos e santas e anjos da guarda embora esses não tivessem conseguido impedir o roubo.
Esse lar sem doce mas cheio de santos e batatas que a filha ia trazendo. Uma só divisão da casa que todos os dias se ia enchendo batata a batata que chegava para distribuir pela vizinhança. Mas por vezes na vizinhança espreitava o diabo e pelo diabo a deixou o marido e pelo diabo ela nunca deixava o pai passar da porta.
Não sabia esta mulher que o pai da outra com 10 filhos descarregava na mais velha. Batia-lhe. Era tão mau tão mau que sempre que visitava a filha ela mandava que ficasse à porta limpando os pés no tapete.
Nem os anjos nem as santas particularmente a do almortão que o marido lhe trazia das viagens conseguiram impedir o roubo. Dois roubos, o do dinheiro e o do coração.
Ela ainda ontem foi à campa e limpou o terreno e regou-o com olhos húmidos por não haver nada que chorar porque não consegue esquecer mas consegue perdoar. Tinha o dinheiro entre as tábuas e o colchão, dinheiro ainda na moeda antiga.
Ai cadela que se me vou a ti desmancho-te porque viveste com o que é meu. Estas mãos de campo são capazes de esmagar uma batata.
domingo, abril 30, 2006
Rasganço
garrafa vazia na mão esquerda
e lábios vazios de vidro]
As suas mãos de vidro lascado
rasgavam o véu à tesourada
Que é do cão?
Bradava como uma cadela vazia de leite
com as unhas por desgastar
Útero vazio
De noite de núpcias
Planava a passadeira vermelha
Empunhando a garrafa vazia
Espremendo uma última gota
Suplicando ao padre por mais um pouco de líquido
Deixando cair uma lágrima de vidro
por não ter dado conta
que tinha deixado o amor acabar.
sexta-feira, março 17, 2006
quarta-feira, março 15, 2006
a uma respiração
Quem lhe disse que não se pode penar simplesmente. Uma pena apenas. Por viver neste mundo.
quinta-feira, março 09, 2006
...
Um salto para cima e era morte certa
Podia sempre alegar que alguém a empurrara
“Mas não estavam sozinhos no quarto?”
quarta-feira, março 08, 2006
Naquela noite [RFH X]
Não fosse a pequena Polly estar destinada a ser Santa e o caldo estava estragado.
Naquela noite evitou que o Avô levasse a cabo tal chacina.
Conseguiu impedir, para grande pena da mãe, os rapazes de abrirem os olhos, de crescerem e se tornarem homens, mas não impediu com certeza que nessa mesma noite, ao deitar, se masturbassem dando início à sofreguidão da adolescência.
sexta-feira, março 03, 2006
A velha
Espalhando algas na areia
Havia quem lesse algas como quem lê búzios
“Afundou-se o navio em lágrimas salgadas"
Afundou-se toda a frota nessa noite
Afundaram-se as calças dos homens
As poderosas mãos de mar
Afundaram-se as saias rodadas
Com o peso dos tamancos
Com o peso dos cabelos molhados
Com o peso das pálpebras inchadas
[Depois o sol rasgou a praia
No seu silêncio de lamento]
o peixe morto deu à costa
sem maré que o suportasse
a velha andou até ao mar
com olhos binóculos
de tantos anos a procurar o Homem.
Já era dia
Nem sinal Deles.
Só peixe jogado na costa.
Deixou cair os olhos.
Os binóculos.
Na areia.
quinta-feira, março 02, 2006
Maçã rebuçado
A pequena maçã de rebuçado ficava pendurada no alto do escadote enquanto a mãe trocava a lâmpada para distrair a atenção do rapaz.
A pequena maçã de rebuçado açucarada colava-se à boca à língua à roupa ao escadote aos pés da mamã.
O rapaz babava-se só de a ver escorregar, como um caracol ranheta, pelo escadote metálico.
Gostava de sentir os dedos a colar entre si de a agarrar com as mãos e de a lamber demoradamente só para tirar o açúcar.
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
Menina Lua
Boneca Lua
Ou Lua Lua
[Das duas uma]
Sem desesperar
A menina põe-se a olhar para Lua
À espera que Lua esboce um sorriso
[Uma aragem sopra]
A menina escorrega do baloiço e cai
Tinha asfixiado pelo amor a Lua
Chorado até ficar roxa pelo amor a Lua
Lua já não enviava a luz da noite
Fios de cabelo lunar esvoaçavam com a brisa nocturna
Buracos em vez de olhos
Farrapos em vez de braços
Dizem que a menina tinha uma amiga Lua
Boneca Lua
Ou Lua Lua
[Das duas uma]
Caiu do baloiço
Buracos em vez de olhos
Farrapos em vez de braços
A menina e a amiga Lua
Naquela noite
Findaram
terça-feira, fevereiro 21, 2006
Cerimónia [RFH VIII]
I
A mãe
A mãe afasta as cadeiras.
II
Polly
Polly é a escolhida para beijar a cabeça.
Polly beija a cabeça e torna-se Santa.
Polly embrulha a cabeça num pano de cozinha e foge.
III
Os rapazes
Os rapazes bebem do sangue.
IV
O pai
O pai coça a cabeça à avó.
V
O avô
O avô afia o facalhão nas botas.
VI
A avó
Tenho jejuado. Há dias que não como porque não consigo encontrar os meus dentes.
segunda-feira, fevereiro 20, 2006
a CABEÇA de Jesus Cristo [RFH VII]
How miserable I’ve become leaving in your heads, in your imagination!!!!
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
Sem Título II
por trás de um véu púrpura
de uns olhos gelados
De um miar de um gato
Rasga os cabelos rasga o ventre
Rasga o miar de um gato
Ninguém a viu passar
ninguém a viu ser vista por alguém
num miar de um gato
Medida doce
De um corpo forte
Ardor
de um peito
Amor.
A noite perdia-se
Ela passou sem ser vista
Por trás de uma boca rasgada
Tirou o vestido
Voou
sem ser miada
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
terça-feira, fevereiro 14, 2006
A FAMÍLA [RFH V]
Polly
Nos meandros daquela cabeça palpitavam pensamentos sacros.
Não fosse a pequena Polly estar destinada a ser freira e o caldo estava entornado.
Havia sangue mas Polly não percebia porquê nem estava autorizada a bebê-lo.
II
O avô
O Avô tinha o seu ritual do escalpe. A faca era afiada sobre o bico metálico das botas.
I
Os rapazes
Não era assim que faziam os índios
perguntavam os rapazes completamente estupidificados naquela idade.
IV
A mãe
A mãe serve os guardanapos.
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
A veia poética de Polly [RFH IV]
(Such a lovely ode)
I’m waiting oh Head
To kiss you right on the top.
My mother says that will bring me fortune
But I prefer oh Head
If instead
of kissing
I could make you a crown
Like the one I did for my little dog
-Polly!!!! – Cried grandpa
Sorry oh Head
I’ll wait until the war is over
Apologized Polly.
sexta-feira, fevereiro 10, 2006
REQUIEM FOR A HEAD III (última ceia)
À mesa o vinho é servido.
II
A cabeça é pendurada na sala como troféu de caça.
III
Há uma grande festa e dança-se como loucos.
quinta-feira, fevereiro 09, 2006
REQUIEM FOR A HEAD II (bath time)
A cabeça é deixada de molho. Os cabelos escovados.
Há sangue e a menina Polly não sabe porquê.
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
REQUIEM FOR A HEAD I
Imagino uma cabeça numa bandeja.
Rola pelo chão.
É a de Jesus Cristo (!)
Todas as mulheres se apaixonam pela cabeça. Ele não se decide. Elas coleccionam cabelos.
Ele está farto delas!
II
Chegam os rapazes e jogam à bola com a bonita cabeça que a mãe ofereceu.
III
A pequena Polly acha tão carinhoso aquele ursinho cheio de pó e folhas secas de andar pelo chão.
Hora do chá.
Uma chávena de chá é servida.
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Para ler a várias vozes
P Pi Pin Ping Pinga Pingam suores
e dizem que os invejosos têm serpentes na boca.
Limpa chaminés tem sexo nas cinzas.
O seu sexo é cinzento. Queima.
Tenho brasas nos lábios e tenho comichão debaixo do braço.
Escorrem pingos de sangue que se estorricam ao lume.
Eu abano-o ao som da madeira a estalar mas ele nunca tem calor ele nunca se bronzeia.
Escorrem pingos de suor da minha veia artéria ahorta.
Ele tem uma escova para pentear os meus cabelos
a mesma com que esfrega os tijolos.
Ele tem umas mãos grossas de limpa chaminés
que fazem escaladas e trepam telhados por cima da minha cabeça.
Ele põe os óculos para observar o grau de sujidade da minha pele e eu ergo-me para lhe proporcionar alegria. Estico-me e rebento com o meu peito contra a sua lupa.
Milhões de odores cobrem o seu nariz de lume.
Eu liberto-me em gritos. Ele limpa-os. Escova-os muito direitinho.
O limpa chaminés existe. Tem de existir para sempre.
Eu gosto de limpar as suas unhas e em troca ele coça-me as costas. É bom assim. Ao lume.
Ele nunca se queima. Eu queimo. CONSUMO-ME. Auto combustão assumida.
É bom assim. Direitinho.
Chaminés estreitas de musgo a roçar o humido sabor das minhas pernas.
Chaminés gordas em forma de pénis.
O seu sexo é cinzento.
O seu odor é...
Ele acende as velas com um estalido.
Rio-me
porque é magia.
Eu não acredito em magia. E assim é bestial!
Trocas de lugar de olhos fechados e ao lume apagado tudo é possível.
Descemos escorregas de mão dada
e aterramos com fortes estrondos nas cinzas ainda quentes.
Ele não sente. Eu sinto tudo.
Ele tem ossos gelados da chaminé e eu sinto a corrente de ar passar-me pelo rosto.
Chama-me. Já vou.
Demoro mais tempo para o fazer esperar e depois acendo o lume.
Pequenas brasitas tremelicam enquanto cantamos canções de amor. A chaminé é apertada e é boa para certas intimidades.
Ele de fole. Atiça-me os mamilos que parecem glóbulos vermelhos em acção parecem rebuçados parecem chouriços a assar. Que cheiro a CARNE. Que cheiro.
Realizamos uma saída pela chaminé em direcção ao telhado ao céu a uma estrela.
Deixamos um rasto de fumo.
quinta-feira, janeiro 26, 2006
Sem título
Respira levemente para arrepiar
Desce
Como um lenço macio de seda
Dos pés da cama ao chão
Rebola
Como uma foca no tapete de areia
Levanta-se olhando os dedos pequeninos dos pés
Morde para sentir prazer
Puxa o cortinado para deixar entrar luz
Acaba partindo a janela e cortando a face num caco
Soltou-se
E disseram em coro
Que tinha voado como Ícaro
Mas sem asas
Só depois encontraram um sentido
Porque ia com um sorriso
E descalça
Sentido na foca sentido no lenço de seda sentido no prazer
Sentido nos cacos de vidro
Sentido na face
Nos pés
E sentido no facto de não ter asas
De não ser Ícaro
De não ser Santa
No dia do enterro
Não ajudou nada
Esse facto
De não ser quem devia
O facto
De afinal ninguém saber quem era
Surpresa bonita
Mas agora morta
E ela ia linda
E continuava de seda
Ao ritmo da passada
Sobrevoava sem asas
Nos ombros dos homens
Linda
Sem nome e sem alas
Sem sapatos
O reflexo do sol nos cacos
Na janela na face
Nos ombros dos homens.
quarta-feira, janeiro 25, 2006
A inveja
fotos:jtrevidic
Numa tarde de calor a menina derrete melosa em volta de uma árvore. Os frutos estão endurecidos como os seus seios. Pingam gotas de cuspo da serpente que queria ser Eva. O tronco é alto e forte e a menina transpira resina e chupa o chupa-chupa. Há qualquer coisa a picar-lhe os pés que julga serem formigas atraídas pelo odor açucarado do lollypop dos frutos das resinas corporais.
A escorregadia linguaruda serpente não quer os frutos resinosos quer aquele objecto estranho comestível mais apetecível à menina que continua a chupar. As saias levantavam com o vento por isso tornou-se fácil enroscar-se nas pernas morninhas da menina que chupa.
A menina não estava adormecida mas era difícil estar sozinha e tão confortável e não pensar em Adão. Por isso quando foi picada pela inveja não ligou. Continuou a chupar e sentiu um espasmo alegre e deu risinhos contentes passando a língua pelo doce.