quarta-feira, agosto 23, 2006

gargantilha

Alguns afirmaram que jamais se admirou uma garganta assim.

Usava uma gargantilha de plástico brilhante para disfarçar uma garganta alta áspera uma saliva ácida dos tempos dos chupa chups.
Saía à rua para espreitar pela garganta dos outros na busca de uma história melhor que a sua.
Nos buracos das gargantas dos outros viviam gritos asfixiados e paixões violentas presas num limbo numa morte suspensa em líquido por coagular engrossar vomitar.
O cheiro das gargantas dos outros não era diferente do da rua de baixo.
A correspondência morse entre traqueia e esófago chegava atrasada o coração batia aos solavancos tal como quando os namorados se rebolavam dentro dos carros na rua de baixo.
A sua garaganta afinal era vermelha mas já não tinha qualquer sangue.
A sua gargalhada era morna e o seu hálito quente como o dos cães.
Um dia a sua garganta ficou escancarada entre um contentor do lixo e uma janela. A boca aberta como uma dentadura de leão à venda na loja da rua de baixo.
Vieram amigos e fotógrafos.
Alguns confessaram nunca ter visto uma garganta tão bonita.

1 comentário:

Anónimo disse...

Epah... isto conduz todos para a GARGANTA AFUNDO...AHAHAHH.

Tens aqui belos poemas, amiga!

Beijos,

Lucylu ( www.attiyos-sonoros.blog.pt)