Alguns afirmaram que jamais se admirou uma garganta assim.
Usava uma gargantilha de plástico brilhante para disfarçar uma garganta alta áspera uma saliva ácida dos tempos dos chupa chups.
Saía à rua para espreitar pela garganta dos outros na busca de uma história melhor que a sua.
Nos buracos das gargantas dos outros viviam gritos asfixiados e paixões violentas presas num limbo numa morte suspensa em líquido por coagular engrossar vomitar.
O cheiro das gargantas dos outros não era diferente do da rua de baixo.
A correspondência morse entre traqueia e esófago chegava atrasada o coração batia aos solavancos tal como quando os namorados se rebolavam dentro dos carros na rua de baixo.
A sua garaganta afinal era vermelha mas já não tinha qualquer sangue.
A sua gargalhada era morna e o seu hálito quente como o dos cães.
Um dia a sua garganta ficou escancarada entre um contentor do lixo e uma janela. A boca aberta como uma dentadura de leão à venda na loja da rua de baixo.
Vieram amigos e fotógrafos.
Alguns confessaram nunca ter visto uma garganta tão bonita.
1 comentário:
Epah... isto conduz todos para a GARGANTA AFUNDO...AHAHAHH.
Tens aqui belos poemas, amiga!
Beijos,
Lucylu ( www.attiyos-sonoros.blog.pt)
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