quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Para ler a várias vozes


P Pi Pin Ping Pinga Pingam suores
e dizem que os invejosos têm serpentes na boca.

Limpa chaminés tem sexo nas cinzas.
O seu sexo é cinzento. Queima.

Tenho brasas nos lábios e tenho comichão debaixo do braço.
O Limpa Chaminés tem instrumentos e orgãos.
Tem a ciência do negro na pedra fria.
O carvão e os desenhos no meu corpo.
O tapete ao pé da lareira.

Escorrem pingos de sangue que se estorricam ao lume.

Eu abano-o ao som da madeira a estalar mas ele nunca tem calor ele nunca se bronzeia.
Escorrem pingos de suor da minha veia artéria ahorta.

Ele tem uma escova para pentear os meus cabelos
a mesma com que esfrega os tijolos.

Ele tem umas mãos grossas de limpa chaminés
que fazem escaladas e trepam telhados por cima da minha cabeça.

Ele põe os óculos para observar o grau de sujidade da minha pele e eu ergo-me para lhe proporcionar alegria. Estico-me e rebento com o meu peito contra a sua lupa.
Milhões de odores cobrem o seu nariz de lume.

Eu liberto-me em gritos. Ele limpa-os. Escova-os muito direitinho.

O limpa chaminés existe. Tem de existir para sempre.

Eu gosto de limpar as suas unhas e em troca ele coça-me as costas. É bom assim. Ao lume.
Ele nunca se queima. Eu queimo. CONSUMO-ME. Auto combustão assumida.
É bom assim. Direitinho.

Chaminés estreitas de musgo a roçar o humido sabor das minhas pernas.
Chaminés gordas em forma de pénis.
O seu sexo é cinzento.
O seu odor é...

Ele acende as velas com um estalido.
Rio-me
porque é magia.

Eu não acredito em magia. E assim é bestial!
Trocas de lugar de olhos fechados e ao lume apagado tudo é possível.

Descemos escorregas de mão dada
e aterramos com fortes estrondos nas cinzas ainda quentes.

Ele não sente. Eu sinto tudo.

Ele tem ossos gelados da chaminé e eu sinto a corrente de ar passar-me pelo rosto.

Chama-me. Já vou.

Demoro mais tempo para o fazer esperar e depois acendo o lume.

Pequenas brasitas tremelicam enquanto cantamos canções de amor. A chaminé é apertada e é boa para certas intimidades.

Ele de fole. Atiça-me os mamilos que parecem glóbulos vermelhos em acção parecem rebuçados parecem chouriços a assar. Que cheiro a CARNE. Que cheiro.

Realizamos uma saída pela chaminé em direcção ao telhado ao céu a uma estrela.

Deixamos um rasto de fumo.

2 comentários:

UniversitYliopisto disse...

passei por cá!
prometo passar mais vezes.

beijos grandes,
rogério

Anónimo disse...

Gosto muito deste poema!!
Especialmente o "Pi Pin Ping Pinga Pingam suores", faz-me lembrar a cena da tisana...loool.

Beizzos,

LN