sexta-feira, novembro 20, 2015

Praia de Faro III


Mar não me disseste ao ouvido que vinhas com tempestade 
o embate estilhaçou a minha barcaça 
não contava com os ventos traiçoeiros 
nem com as gaivotas esfomeadas a picarem-me a pele.

Mar ondulado enfraqueceste-me com enjoos 
secaste-me a garganta com o teu sal 
empurraste-me borda fora 
obrigaste-me a naufragar e agora? 

Meu amante meu calmante não encontro berço na tua maré. 

Quis molhar os pés e a tua água estava gelada 
mergulhei e engoli tanta água 
cuspi arranhei a traqueia magoei o coração 
não encontro refúgio nem embalo não encontro salvação.

Não me disseste ao ouvido que a tua água estava turva 
como naqueles dias de vento 
dias encobertos em que começa a chover.

Pensava submersa em teus braços que nunca me farias mal
que da tua escuridão não sairia nenhum desgosto 
nenhum monstro nenhum tubarão.

[corro para ti e mergulho 
abro os olhos e não consigo ver nada 
mete medo dar mais uma braçada 
mete medo encher o peito de ar].

[Prossigo envolta na tua água 
abandonando-me em direcção ao negro 
sem me preocupar com o ar que me resta 
a pensar no dia em que vou fechar os olhos em ti 
como quando boiamos completamente entregues] 

23 de Julho 2014. Faro, Praia.

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