Sento-me à janela, observo as árvores abanam com o vento.
Quem me dera que fosses esse vento fresco e que percorresses o meu corpo cima a
baixo. Sento-me à tua espera e afinal tu nunca vens. O amor é um balão livre e
às vezes vai à deriva à espera de nunca rebentar. A paixão é algo que te amarra
e tem tentáculos que vão sorvendo a terra, criando raízes que sobem em sentido
contrário, de baixo para cima até não conseguires respirar. Dá-se um sufoco,
uma dor, mas uma dor boa, daquelas que queres repetir.
Estou à espera mas parece que nada acontece, só vento fresco
e quente e não há notícias tuas. Estou à espera e parece que só há vazio,
abandono, pareço um tronco de árvore oco, nem sequer os bichinhos aqui habitam.
Comeram tudo e foram embora à procura de outro sabor parecido com este amor.
Escrevo-te e parece que é para ninguém ou para alguém
algures sem rosto. Escrevo tantas folhas e tantas páginas, palavras, depois
rasgo-as e amachuco e depois volto a lê-las. Ficam mais bonitas amachucadas e
usadas – parece que alguém as leu. Tenho tantas palavras mas não tenho
princípio nem fim, perco-me no labirinto à procura de um sentido. Já escrevi tantas vezes sobre o amor, amor, e já estou farta.
Não tenho raízes com o amor e ele parece que não quer criar nada comigo. Mas
tenho tanto amor para dar!
Este amor agita-me, faz-me pensar que sou capaz de tudo, que
amanhã há sol e que a vida é maravilhosa, que vai nascer uma planta e que vai
ser regada com muito carinho.
Guardei até rascunhos de cartas que nunca te enviei, releio-os
e depois há sempre qualquer coisa que faz com que voltem para onde vieram.
Estão todos guardados em compartimentos – os maiores no coração.
"Raízes...da palavra" Faro, 2011.