Uma folha do meu tronco espasmódico espasma espasmodia até aos meus cabelos. São as chamadas convulsões periódicas da minha alma. Acontece. Da minha língua saem arroubos roubos da integridade estável que devemos ser (aos olhos dos outros). Ansiedades malaicas. Totalidade, soma de espasmos em catadupa. Palpitantes histerias até ao céu.
sábado, abril 07, 2018
Da saudade
Se eu pudesse voltava
à primeira vez de tudo
a primeira vez na vida
no momento em que os olhos se abrem
rompendo o vazio para tudo começar
ao primeiro cheiro, som ou riso
Ao primeiro toque ao primeiro sentir e depois o sorriso.
Eu voltava ao primeiro tudo
Agradecia pelas vezes em que em vez de tudo veio o nada, a ausência ou a escuridão.
E então, abria os olhos pela primeira vez
a tudo.
quinta-feira, janeiro 11, 2018
Gavetas e compartimentos
Sento-me à janela, observo as árvores abanam com o vento.
Quem me dera que fosses esse vento fresco e que percorresses o meu corpo cima a
baixo. Sento-me à tua espera e afinal tu nunca vens. O amor é um balão livre e
às vezes vai à deriva à espera de nunca rebentar. A paixão é algo que te amarra
e tem tentáculos que vão sorvendo a terra, criando raízes que sobem em sentido
contrário, de baixo para cima até não conseguires respirar. Dá-se um sufoco,
uma dor, mas uma dor boa, daquelas que queres repetir.
Estou à espera mas parece que nada acontece, só vento fresco
e quente e não há notícias tuas. Estou à espera e parece que só há vazio,
abandono, pareço um tronco de árvore oco, nem sequer os bichinhos aqui habitam.
Comeram tudo e foram embora à procura de outro sabor parecido com este amor.
Escrevo-te e parece que é para ninguém ou para alguém
algures sem rosto. Escrevo tantas folhas e tantas páginas, palavras, depois
rasgo-as e amachuco e depois volto a lê-las. Ficam mais bonitas amachucadas e
usadas – parece que alguém as leu. Tenho tantas palavras mas não tenho
princípio nem fim, perco-me no labirinto à procura de um sentido. Já escrevi tantas vezes sobre o amor, amor, e já estou farta.
Não tenho raízes com o amor e ele parece que não quer criar nada comigo. Mas
tenho tanto amor para dar!
Este amor agita-me, faz-me pensar que sou capaz de tudo, que
amanhã há sol e que a vida é maravilhosa, que vai nascer uma planta e que vai
ser regada com muito carinho.
Guardei até rascunhos de cartas que nunca te enviei, releio-os
e depois há sempre qualquer coisa que faz com que voltem para onde vieram.
Estão todos guardados em compartimentos – os maiores no coração.
"Raízes...da palavra" Faro, 2011.
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